Bloco do Sai-Não-Sai e as razões por você ser o último a saber

por Leandro Lopes, do Coletivo Adiante

O crescimento do carnaval de Belo Horizonte é motivo de festa para alguns e de preocupação para outros. Desde o ano passado, quando o número de pessoas pelas ruas da cidade já apontava um aumento considerável em relação aos anos anteriores, alguns blocos já se preocupavam com a possível falta de estrutura e segurança. Adotaram uma estratégia de deixar para divulgar data, horário e trajeto do desfile, praticamente às vésperas. Formaram assim, a ala dos blocos do sai-não-sai.

Entre as principais razões para o esconde-esconde das informações, estava o fato da Prefeitura de Belo Horizonte instituir como regra a responsabilização do bloco pelos danos que poderiam ser causados ao longo do desfile. Também não se sabia quais seriam as estruturas básicas, como banheiros químicos e efetivo policial oferecidos pelo poder público. Neste sentido, esse ano o samba-enredo parece o mesmo.

No domingo dia 18, após a presença de mais de duas mil pessoas no ensaio do bloco Juventude Bronzeada, na Praça Floriano Peixoto, o assunto voltou a fazer parte do refrão do cotidiano dos blocos da cidade. O local amanheceu na segunda-feira com canteiros danificados e muito lixo. A Prefeitura de Belo Horizonte tratou a questão como se não tivesse nenhum tipo de responsabilidade no caso. Resultado: alguns blocos cancelaram seus ensaios abertos! Se a levada continuar a ser esta, 2015 terá a sua ala do sai-não-sai ampliada.

Um dos blocos que demorou para avisar ao público em geral e até mesmo aos seus próprios participantes em 2014, foi o Unidos do Samba Queixinho. O seu presidente Gustavo Caetano Matos já confirmou que 2015 a passada é a mesma. “O Queixinho é uma escola de samba de rua sem grana e feita com muita dedicação por seus componentes. Ele é um presente surpresa para a cidade. Então preferimos nos manter como uma incógnita”.

De todo modo, a ausência de estrutura oferecida pelo poder público também pesa na decisão. Segundo Gustavo, há alguns anos a prefeitura não consegue atender aos pedidos do organizadores dos blocos. “Por exemplo, não existe verba para colocar banheiros químicos suficientes para atender a demanda. Desse modo, se você divulga, aumenta exponencialmente o número de pessoas. E, se a coisa não funciona bem, toda nossa dedicação e cuidado, toda nossa atenção nos ensaios, vira secundário. O desfile passará a ser conhecido como um fracasso por razões que não estão ao nosso alcance. O Queixinho prefere se resguardar e oferecer o melhor possível para os foliões”, argumenta.

O Pena de Pavão de Krishna – PPK, também divulgou, em 2014, sua agenda em cima da hora, mas promete antecipar este ano. “O PPK tem a proposta de não ter um trejeto fixo, nem de repetir o lugar do desfile dos anos anteriores. Ano passado a gente decidiu alguns dias antes do desfile e, por isso, ficou a impressão de ter segurado a informação. Este ano, vamos divulgar mais antecipadamente até porque é provável que nosso trajeto seja mais afastado e irá demandar mais organização daqueles que irão querer participar do bloco”, explica Gustavito Amaral, um dos participantes do PPK.

Ele admitiu, porém, que existe uma preocupação do PPK de não popularizar excessivamente o bloco. “A gente acredita muito no que estamos fazendo. Não é simplesmente festa”. Segundo Gustavito, existe um cuidado em informar aos participantes a respeito das reflexões espirituais e algumas ações, como o ensaio que deve acontecer este ano no dia 2 de fevereiro, dia de Yemanjá, serve como incentivo para as pessoas entenderem um pouco “a onda do bloco”. Trata-se de um cuidado com o equilíbrio entre o profano e o sagrado. “É justamente por conta do profano que o espiritual ganha tanta força no PPK”, diz ele.

Até o momento, a BeloTur não tornou público a programação, mas anda dizendo que Belo Horizonte deverá receber 1,5 milhão de pessoas. Para Gustavo Caetano, isso é uma questão delicada. “Se não tem dinheiro para bancar os banheiros necessários, então para que divulgar em grande escala? Acho um tiro no pé”, diz. Para Gustavito, os organizadores dos blocos precisam ficar atentos. “A prefeitura tem suas responsabilidades enquanto poder público. Não pode querer tirar proveito, querer transformar isso que é uma ação espontânea, em algo mercadológico. Eu não quero que meu bloco, por exemplo, carregue a logo da prefeitura”, afirma ele.

De todo modo, alguns blocos já divulgaram suas datas. Acesse o MAPA DA FOLIA e já começe a se programar.