Tem carnaval? Tem sim senhor! E, se reclamar, vai ser cada vez maior!

por Sarah Dutra, do Coletivo Adiante (texto e foto)

Pelo que parece, Belo Horizonte está mesmo consolidando o carnaval de rua como uma das atrações da cidade. Enquanto alguns municípios do interior de Minas Gerais, tradicionalíssimos pelas festas, reforçam a programação ou até mesmo desistem da folia em 2015 (essas pelo risco de falta de água), a Prefeitura de Belo Horizonte – PBH – afirma que 1,5 milhão de pessoas (1.500.000!) devem passar o carnaval na capital. Pensando em alguns anos atrás, essa era uma época em que uma caminhada tranquila e silenciosa pela Avenida Afonso Pena era perfeitamente possível.

Em 2014, muita gente reclamou da falta de estrutura, falta de banheiros, falta de segurança, falta de… até mesmo de informações por parte dos próprios blocos. Enquanto alguns procuraram desfilar no centro da cidade, atrair a maior quantidade possível de foliões e se misturar com outros blocos, houve aqueles que preferiram se esconder um pouco e fazer o que davam conta, e os que optaram por evitar as multidões fazendo mistério apesar de já serem populares (leia reportagem sobre o bloco dos Sai-Não-Sai). Esse ano, vemos alguns grupos com a mesma estratégia: se fazem conhecer, mas se esquivam do alarde sobre as datas, horários e locais em que vão colocar a bateria para tocar e o povo pra brincar.

Desde que o carnaval de BH começou a surpreender até mesmo seus próprios cidadãos, a quantidade de bloquinhos e de folia se multiplica a cada ano. Grupos de amigos tomaram fôlego e passaram a fazer suas próprias festas nas ruas e chamar todo mundo pra participar. O bloco Ordináááários é um exemplo. 2015 vai ser apenas a segunda passagem deles pela cidade, mas já na estreia, no ano passado, arrebataram um público de mais de 4 mil pessoas. Apesar do evento e da página no Facebook, os organizadores não esperavam essa multidão e, como novatos na área, tiveram falhas básicas. Há quem reclame que não ouviu músicas do É o Tchan! no bloco que se firmou na figura do Compadre Washington. Segundo os organizadores a concentração foi feita ao som da banda e aprendendo com os erros, logo que a data de folia desse ano foi anunciada, os Ordináááários já trataram de publicar um vídeo da banda Batuque Coletivo (responsável pela bateria do bloco) reproduzindo clássicos do grupo que tanto causou nos anos 1990. Nesse carnaval, o grupo espera que cerca de 6 mil foliões acompanhem a festa e ganharam até vídeo dos homenageados!

Por falar em banda, bateria, surdo, tamborim e tudo mais, o interesse daqueles que querem fazer batuque no carnaval e aproveitar os ensaios para começar a festa também está assustando alguns blocos. A PBH ofereceu o Largo da Saideira como espaço oficial para ensaios abertos, mas e a ocupação da cidade, como fica? O bloco Pula Catraca! afirma que o carnaval da capital “tomou forças como um movimento de resistência pelo direito à cidade. Num momento em que a prefeitura tentava restringir ao máximo as movimentações de rua, surgiram blocos autônomos e independentes que buscavam criar novas formas de pensar e viver espaço público.”

O Juventude Bronzeada foi um dos blocos que quis usar o espaço de praças para seus ensaios e que comemora a aparição de novos rostos entre os instrumentos, porém acabou virando notícia no dia seguinte de um ensaio devido à sujeira vista na praça em que estavam. Quando responsabilizado pela sujeira, o bloco divulgou uma nota lembrando o dever da prefeitura no apoio do evento, com profissionais de limpeza, por exemplo (mais um capítulo aqui). O Então, Brilha! também optou por estar no meio da cidade nas preparações da bateria. O que se viu foi um público muito maior que o esperado para o evento e quem estava na multidão com seu instrumento tinha dificuldades para acompanhar o regente.

Peu Cardoso, que rege o bloco Baianas Ozadas, no Largo da Saideira, esclarece a impossibilidade de tratar o carnaval do bloco apenas por números, já que a produção independente de uma festa pra milhares e milhares de pessoas não é muito viável. O bloco trabalha para construir uma boa bateria (formada majoritariamente por músicos amadores) e pra levar muito axé pras ruas. A expectativa do Baianas Ozadas não é de pessoas por metro quadrado, mas sim de muita alegria!

Para além da técnica impecável, para além dos números, para além das discordâncias, o carnaval de BH se firma cada vez mais como marca da cidade. Nascido das iniciativas independentes, com blocos de rua na Zona Norte, na Leste e na Centro-Sul, com escola de samba e blocos caricatos, com marchinhas da época da vovó e de cunho político, com ambulantes fazendo a festa e salvando quem está na folia dos preços abusivos dos vistos estabelecimentos pelo caminho. O que a capital quer mesmo mostrar é que aqui tem carnaval sim. E se reclamar, vai crescer mais a cada ano!