Onde se cria para um, se cria para dois (ou os concursos musicais de BH)

por Rafael Mendonça

Minas Gerais sempre foi considerado um celeiro da música popular brasileira. Desde a época de ouro do rádio, que nomes locais se destacam nas mais variadas cenas musicais. No mundo do samba, nomes como o de Geraldo Pereira e Wilson Moreira levam a verve montanhesca para o Rio de Janeiro e de lá escrevem seu nome na história. Mas é do presente e do futuro que eu gostaria de falar aqui. Esse texto é sobre o atual cenário musical mineiro que anda cheio de talentos, de toda a sorte e estilos, com trabalhos cada dia mais respeitados nos melhores ouvidos do ramo.

E desde que o carnaval voltou para cá, a cidade e os músicos ganharam uma ajuda e tanto. Em sua quarta edição neste ano de 2015, o “Concurso de Marchinhas Mestre Jonas” vem desafiando as mentes musicais a criarem novas lendas da música do estado. Este ano a festa vai ser na Banda Mole, neste sábado, dia 7. E terá a finalíssima na sexta 13. A disputa está acirrada, com o número recorde de 268 inscritas e com um detalhe que chamou a atenção: a pegada política não é predominante em suas finalistas.

Ao mesmo tempo, o “Concurso Mineiro de Marchinhas, Samba-enredo e Carnaval”, criado em 2012, chega agora a sua segunda edição. Com R$ 19 mil reais para distribuir em prêmios, o concurso divulgou seus vencedores na noite desse domingo, dia 1. Lucas Fainblat, com seu samba-enredo que homenageia os blocos de BH e Gustavo Maguá, com sua marcha que brinca com a moda do selfie, levaram o caneco para casa em uma festa com ingressos esgotados na Serraria Souza Pinto.

Duas frentes
A presença de dois concursos de marchinhas é uma evidência do crescimento do carnaval local, mas cabe a pergunta: a cidade comporta? Para Brisa Marques, uma das idealizadoras do Concurso Mestre Jonas, existe espaço para todo mundo. Ela respondeu uma provocação que fiz pelo Facebook. “O concurso surgiu do desejo de homenagear e eternizar o nome do Mestre Jonas, compositor, sambista, artista mineiro, do morro, carnavalesco… A partir daí, pensamos principalmente em valorizar e estimular a composição de marchinhas na cidade e no Estado e não apenas fazer mais um evento no Carnaval, com público garantido. Lembremos da Coxinha da Madrasta, do Imagina na Copa e do Baile do Pó Royal. Creio democraticamente que existe espaço para tudo”.

“Eu acho que o futuro do carnaval vai depender de uma gestão compartilhada entre a Belotur, os artistas e os produtores envolvidos nesta criação em Belo Horizonte. O conceito artístico precisa ser cada vez mais amarrado para funcionar bem. Estamos vendo com otimismo a realização do Concurso e queremos entregar um produto legal para a cidade. A ideia é abrir espaço para os compositores de samba divulgarem os seus trabalhos, ampliando o apoio e valorizando os artistas e produtores locais. Acho que o sucesso do evento vai contribuir com o futuro dele e eu espero que seja repleto com a alegria e a expressão do povo, que é a característica principal dessa festa”, afirma Henrique Chaves, criador do Concurso Mineiro.

Os organizadores estão imbuídos de que a folia e a criatividade não esmoreçam na cidade. Flávio Henrique, músico e frequentador assíduo das marchinhas, acredita que o Concurso Mestre Jonas emplacou mais junto à classe e começou bem sua história com três belas edições. “Mas vejo com bons olhos as outras iniciativas, todo mundo está vendo que o carnaval teve um crescimento geométrico, acho natural que o mercado para os compositores cresça na mesma medida”, concluiu.

Gustavo Maguá, compositor e vencedor deste ano do “Concurso Mineiro”, também dá a sua sugestão: “acho que para os compositores e intérpretes, quanto mais concursos, mais chances têm de divulgar seu trabalho. Mas, ao mesmo tempo, se os dois se juntassem em um só concurso, mais forte, talvez valorizaria ainda mais a cultura local e também os artistas que dele participariam. Enfim, acho que tudo tem prós e contras e essa discussão é uma ótima oportunidade para quem participa efetivamente do Carnaval de BH encontrar formas para torná-lo ainda melhor”.

Agora é começar a pensar as composições para o ano que vem, pois as portas estão abertas e a concorrência aqui é alta. Muita qualidade.

Conheça as marchinhas que irão concorrer no Concurso de Marchinhas Mestre Jonas:

• Adão e Eva – Mauro Bainha / Douglas Silva / Victor VDS / Ewerton Augusto

https://soundcloud.com/mauro-bainha/ad-o-e-eva

• Bibi fomfom – Du Macedo/Francisco Forreaux/Julia Bianchi

https://soundcloud.com/du-macedo/bibi-fon-fonmp3

• Cordão da Conceição – Chico Amaral

https://soundcloud.com/marrege-reis-ramos/cordao-da-conceicao-mix1

• Do desespero a alegria – Pablo Castro

https://soundcloud.com/pablo_castro/do-desespero-a-alegria

• Essa cana-bidiol – Ruston Albuquerque, André Albuquerque e Ricardo Gomes

https://soundcloud.com/ruston-albuquerque/essa-cana-bidiol

• Eu quero todo mundo dando beijo na boca – Luiz Rocha

https://soundcloud.com/luizrocha-1/eu-quero-todo-mundo-dando

• Eu sou charlie – Valdênio da adelaide

https://soundcloud.com/vald-nio/eu-sou-charlie

• Explosão Gourmet – Alexandre Pimentel e Guilherme Freitas

https://soundcloud.com/guilhermefreitas/explosaogourmet

• Marchinha do Chove não move – Maurício Ribeiro

https://soundcloud.com/mauricioribeiro/marchinha-do-num-chove-num-move

• O diabo que carregue – Makely Ka

https://soundcloud.com/na-voz-dos-outros/o-diabo-que-carregue

• Rejeitados de Guarapari – Flávio Boca, Rae Medrado, Sérgio Duá

https://soundcloud.com/duaproducoes/rejeitados-de-guarapari

• Rock’and roll de carnaval – Rafael Fares, Thiakov, Nando Goulart

https://soundcloud.com/alcova-libertina/rock-de-carnaval

• Selfolia – Gustavo Maguá/Vitor Veloso/Alexandre Horta

https://soundcloud.com/gustavo-magu-1/selfolia

• Sudorese em BH – Thiago Dibeto / Marcelo Guerra / Olavo Botelho

https://soundcloud.com/thiagodibeto/sudorese-em-bh-bunda-suada

• Tira a mão do meu pai – Zezé Daniel e Marcos Frederico

https://soundcloud.com/zezeaucubo/tira-a-mao-do-meu-pai