Visitantes, pacotes de turismo e estrutura

por Leandro Lopes, do Coletivo Adiante (texto e foto)

Larissa, professora de inglês, vive em Campinas. Rodrigo, publicitário, vive em São José do Rio Preto. Rogério, também professor de inglês, em São Paulo. Pela primeira vez nas suas vidas visitarão Belo Horizonte, mas não encontrarão a cidade do modo como seus moradores a veem no cotidiano. BH estará transformada pelo carnaval. Os três talvez façam parte dos números que apontam a presença de 500 mil turistas na cidade nos dias de festejos. Porém, mais que engrossar as estatísticas, eles querem avolumar as alegrias.

Todos passaram a saber da existência de um carnaval pelas terras belo-horizontinas há pouco menos de um ano, a partir das experiências positivas que alguns amigos teriam vivido por aqui em 2014. “Desde criança ouvia falar do carnaval de Ouro Preto e de Muzambinho, cidades do interior do estado, mas agora só escuto falar de Belo Horizonte”, diz Rodrigo.

“Apesar de Belo Horizonte não estár no mapa do carnaval brasileiro ainda, eu sou daquelas que acumula tradição em passar carnaval nas cidades que oferecem a possibilidade de um carnaval aberto, de rua. Eu gosto das marchinhas, das bandinhas, das crianças que se fantasiam, dos bêbados que carregam alegrias”, afirma Larissa.

“Fiquei muito surpreso com o que a Fernanda, minha amiga mineira, falou: o carnaval de BH era muito bom! Enquanto ela falava daí, eu ficava me perguntando: ‘mas tem blocos de rua? Tem festa? Tem agito?’ Por ter pouco conhecimento, eu jurava que BH era morta durante a época. Hoje eu tenho certeza que o carnaval mineiro não deve nada para o de São Paulo”, diz Rogério.

De malas prontas, guardam nos seus imaginários as imagens clássicas, como todos os que não conhecem a cidade, que o turismo insiste em mostrar: Pampulha, Ouro Preto, Inhotim, Feira Hippie. Mas, com tantas possibilidades de folia, com a expectativa de 200 blocos, todos irão priorizar as festanças pelas ruas da cidade.

PACOTES TURÍSTICOS
Tanto Larissa, quanto Rogério e Rodrigo, ficarão em casas de amigos, mas a especulação em torno do crescimento no número de turistas na cidade foi tão grande que agências de turismo decidiram criar, pela primeira vez na história da cidade, pacotes específicos para atender os interessados em passar o feriadão por aqui.

Os pacotes, encabeçados pelos associados membros da Associação Brasileira de Agências de Viagens de Minas Gerais – ABAV-MG – e da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais – ABIH-MG, tentam oferecer preços e condições atrativas para os foliões, mas até o momento a adesão foi baixa.

Segundo Ricardo Campos, da D’Minas Turismo, as agências identificaram que esta é uma oportunidade real de negócios. “O perfil do carnaval da cidade, que voltou a ter força pelos blocos, nascidos nos bairros e regiões de forma natural, fez com que tenhamos um carnaval para se viver em família e amigos. Este perfil atrai um público não apenas de jovens foliões, mas também de famílias inteiras”, calcula Campos. A D’Minas Turismo formatou cinco pacotes que tem de quatro a cinco dias e que incluem traslados, city tour por BH e passeios para Ouro Preto e Mariana, Congonhas, São João del Rei e Tiradentes, Grutas Rei do Mato e Maquiné e Inhotim.

ESTRUTURA
Para Fernanda Fonseca, da Libertas Viagens e Experiências, que também oferece pacotes com transporte de ida e volta para o aeroporto, três noites de hospedagem com café da manhã e city tour em BH, o grande investimento em publicidade indica que o poder público deverá cuidar também da estrutura da cidade para que exista um carnaval “duradouro” e para que “nos próximos anos o movimento continue”.

De acordo com os números divulgados pela Belotur, em 2012 o carnaval teve 40 blocos e 50 mil pessoas. Agora, em 2015, espera-se 200 blocos e 1,5 milhão de foliões. Mas a estrutura para receber essa quantidade de pessoa ainda é um ponto de muita discussão pelos organizadores dos blocos.

Segundo Campos, o investimento em infraestrutura foi uma reivindicação das associações envolvidas na criação dos pacotes. “Penso que a cidade já passou por testes importantes com outros grandes eventos como a Copa do Mundo. De todo modo, o importante é que a cidade possa manter a alegria do seu carnaval, com esta pegada tradicional, que é o que conquistou tanto quem mora, quanto quem a visita”, afirma. Na quarta-feira de cinzas a gente pergunta para nossos três turistas: Larissa, Rodrigo e Rogério: Belo Horizonte estava preparada para uma festa deste tamanho?