O sagrado, o profano. E quando explicar é diminuir

por Leandro Lopes, do Coletivo Adiante |

O sagrado e o profano são noções vocabulares (re)produtoras de significados inumeráveis. São túneis sem fim, bibliotecas infinitas, buracos cavados eternamente. Mas todo mundo sabe, conjunto ou separadamente, senti-los, ainda que não saibam explicá-los. É como o conceito de tempo de Santo Agostinho: “Quando não me perguntam, eu sei; mas se me perguntam, e quero explicar, não sei mais nada”. De todo modo, a gente os percebe (persegue?), sobretudo, no carnaval.

Na última sexta-feira, dia 6, dois blocos de rua de Belo Horizonte, Pena de Pavão de Krishna e o Então, Brilha!, se apresentaram no Mercado das Borboletas. O afoxé, o axé, o ambiente, as pessoas, as cores, o cheiro. Tudo me levou a pensar sobre as métricas dessas palavras: sagrado e profano, profano e sagrado. Na teologia, o termo sagrado está ligado à ideia de cuidado, do não banal, de algo que altera a nossa relação com o tempo e o espaço. O profano, para os dicionários, é o oposto, a negação do sagrado, é o caminho herético.

Não é necessariamente a morfologia, o significado delas que me parece interessar, mas a reprodução da reação que elas geram. Por alguns instantes, enquanto o PPK tocava, era possível sentir uma paralisia emotiva, aquilo que a gente chama de arrepio. Nesse instante eu me perguntava as razões pelas quais, sendo eu um cético para quase tudo no mundo, como era possível me permitir algo quase suprasensorial? Talvez nunca seja capaz de responder a isso. Tive o mesmo sentimento ao ouvir o Então, Brilha! Daí, o que me parecia claro, entre tantas coisas indefinidas no meu pensamento, que é o fato de um, o PPK, estar mais ligado ao sagrado e o outro, o Brilha!, mais ligado ao profano, perdeu o seu sentido.

Do Mercado das Borboletas, agora sei disso, saí com o aprendizado de que mais importante que entender, é sentir. Uma vez eu li de alguém que explicar alguma coisa é sempre diminui-la. Que o sagrado e o profano continuem a ser (e já não é pouco) noções vocabulares (re)produtoras de significados inumeráveis. A nós, carnavalescos, sentir já basta.