E quem não gosta do carnaval?

por Sarah Dutra, do Coletivo Adiante |

Ah, o carnaval! Alegria, festa, música, bateria, povo na rua, fantasia, sorriso, suor, sol, chuva, cerveja, catuaba, confete, serpentina… Parece até uma ofensa quando alguém diz que não gosta de carnaval. Como não gostar? Assim, não gostando, preferindo ficar sossegado em um sítio, fazendo churrasco com os amigos, fugir das multidões que arrastam tudo e todos.

Apesar de o carnaval de Belo Horizonte estar conquistando corações de pessoas não tão ligadas à folia (essa que vos escreve, por exemplo), ainda tem muita gente por aí que sente saudades da época em que a cidade ficava às moscas. A doutoranda Fernanda Mügge faz parte dessa tribo. “Nunca gostei de lugares com aglomeração de pessoas, não gosto também do calor e nem do estilo musical. BH sempre foi uma boa opção de local com pouco movimento e com possibilidade de gastar pouco dinheiro durante o feriado”, diz.

Mucio Luciano, professor de história, compartilha dessa ideia e não encontra sentido em ver tanta gente e confusão. Para ele, o incômodo vem da origem no calendário religioso, quando o caos era permitido para que, logo depois, houvesse o tempo de controle e reorganização. Para além de teorias, admite que participava da folia marginal que ocorria na cidade quando era jovem.

Mesmo não gostando ou participando da festa, Mucio lembra que o carnaval de BH tem sua importância, principalmente por ser uma festa que conta com a auto-gestão – da qual a Prefeitura vem tentando tirar proveito – e que luta contra o consumismo, machismo e sexualização da mulher, que muitas vezes são impostos pela grande mídia. “É muito saudável que tenha surgido da população”, completa.

Pensando na forma como o carnaval de BH aparece, o presidente da Associação dos Moradores do Lourdes (Amalou), Jeferson Rios Domingues, afirma que a festa é importante para a cidade, mas que deve ser organizada. Para ele, os problemas começam quando jardins são pisoteados, as ruas servem de banheiros e os vizinhos não conseguem sossego. Há 20 anos ele participa do bloco “Deixa falar”, que ocorre no Bar do Primo, no Lourdes. “O bloco dá a volta no quarteirão, respeita a natureza, respeita os vizinhos. Sai às 16h e termina às 20h” comenta Jeferson.

Mais que uma volta no quarteirão
Quem não se interessa muito pelo carnaval tem medo do que vai ser do trânsito da capital. Fernanda diz que os festejos não a incomodam, contanto que não atrapalhem o deslocamento para o cinema ou para a casa de um amigo. “Até uns dois ou três anos atrás BH ficava muito vazia durante o carnaval e o trânsito ficava excelente. Desde pelo menos o ano passado está tudo ficando muito movimentado, mas por enquanto não tive nenhuma experiência desagradável”, comenta.

Mucio lembra ainda que tudo o que cresce muito tende a ter problemas, seja com associação de moradores, seja com a Prefeitura, seja com quem não gosta da festa. Porém, para o professor, é importante que o carnaval de BH siga sendo do coletivo, ocupando o espaço urbano e ultrapassando a quarta-feira de cinzas.