O Então, Brilha é, para mim, pular amarelinha

por Coletivo Adiante
Texto: Leandro Lopes
Fotos: Sarah Dutra

O desfile do Então, Brilha foi manufaturado dessas substâncias compostas de cheiros da infância. É sinestesia de antes-de-ontem. É o barulho condutivo para as boas lembranças de criança. Sabe aquele aroma que nos lembra nosso passado? O Então, Brilha é, para mim, cheiro de terra molhada.

Ontem, sábado, acompanhar o colorido do bloco e os batuques foi pegar carona em pequenas grandes memórias do tempo de pequeno. Foi rever as capas de vinil, as primeiras gravações no primeiro gradiente, foi rebobinar o VHS, fazer a-de-daaaaaa-nhá, beijar a vizinha na salada mista, sonhar com Playmobil, brincar de queimada na rua. O Então, Brilha é, para mim, pular amarelinha.

O desfile de ontem, sábado, foi também trabalho duro. Ensaios, vontades, desejos de ocupar, crenças em politizar. É infundado que ele seja apenas bonito, que ele remeta a só gostos de criança. O bloco é tão belo quanto forte. Sair dali, atravessar a Guaicurus, fazer o povo perceber o lugar, transformar visões, possibilitar uma nova forma de enxergar. O Então, Brilha é, para mim, marginal e herói.

_MG_8723 copy

Mas uma hora acaba. E quando o desfile acabou, o pensamento que chegou foi um daqueles que se têm, mesmo que não adiante nada tê-los: porque as coisas não duram a vida toda? Foi lindo vê-lo, mas que o Então, Brilha poderia ser eterno, isso sim, poderia. Hoje, acordei com umas partículas de brilhos amareladas pelo braço. Acho que é brocal o nome. Não quis tirá-lo no banho. Tirá-lo pode significar apagar um pouco da minha infância recente. O Então, Brilha é, para mim, enfim, sonhos de infinitudes.

IMG_9082 copy