Quando o tchan de sexta ainda te faz sorrir na segunda

por Coletivo Adiante
Texto: Camila Bahia Braga
Fotos: Vinicius Rezende

Um texto sobre o carnaval de sexta-feira sair na segunda carrega um abismo, pois tantas emoções já passaram pelas nossas veias desde então. Mas o Tchanzinho Zona Norte foi coisa para se guardar na memória, neste e em outros carnavais.

Uma amiga me disse ter visto uma publicação no Facebook que dizia que o Tchanzinho foi a melhor programação carnavalesca para alguém que estava com diarréia. Segundo o rapaz, dono do piriri, todos os bares, restaurantes e demais comércios estavam de portas abertas, para ele e seu perrengue. O bairro se escancarou em portões, braços e sorrisos para receber uma multidão colorida de gente ralando o tchan.

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Não houve problema técnico que diminuísse a potência daquele bloco, daquela noite de sexta-feira, da mistura de axé anos 90 com o começo irrefutável do carnaval que há tanto tempo se anunciava com algo mais de brilhoso que paira sobre os ares que fogem à Avenida do Contorno. A bateria se espremeu na praça, o carro fez que não andaria, postes se recusaram a acender, o relógio ameaçava nos privar do metrô… mas foi. Tudo foi [lindo].

A corrida dos foliões pela avenida Sebastião de Brito, rumo à Estação 1º de maio, me fez lembrar as manifestações populares de junho de 2013. Uma avenida larga, uma multidão, e de repente súbitas correrias. Mas, além da ausência do gás de pimenta, das balas de borracha, do pavor disseminado pela polícia… sobrava riso nesse correr. Era uma corrida-dança, com asas de borboleta batendo, antenas girando, uma parada para um abraço, um gole de cerveja no caminho.

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Eu gosto de pensar que a Avenida Cristiano Machado adorou ter sido fechada por alguns instantes para a alegria em forma de gente passar. Ela, acostumada só ao cinza, à pressa, à fumaça. Ganhou batuque em vez de buzina, sapatilha em vez de pneu; deixou de ser corredor da loucura urbana para ser passarela da loucura boa da vida. Aquelas catracas mal deviam saber como era serem puladas. Invejavam as colegas da Estação Central, tão cheias de história para contar. Agora elas também têm – milhares de pernas voaram festivas por cima delas, sob a deliciosa repetição de “pula catraca!”.

Os vagões do metrô, por outro lado, podem ter ficado assustados. Era tanta euforia que eles temiam sair dos trilhos. Muito Molejo, Jonathan da Nova Geração, Tati Quebra Barraco, Banda Eva e Timbalada embalaram a viagem de oito estações, até a Central. A gente percebia a falta de ar, mas não viu o tempo passar. Parecia não ter espaço, mas até assim deu para dançar. O Tchanzinho Zona Norte foi coisa para guardar na memória – e contar.

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