Todas as penas de todos os pavões

por Coletivo Adiante
Texto: Camila Bahia Braga
Fotos: Vinicius Rezende

Sempre que eu via o Pena de Pavão de Krishna ser pressionado por respostas de local e horário, dentro do grupo do Facebook, a resposta que defendia o bloco era a mesma: aguardem e confiem. Vai valer a pena.

É verdade que muita gente desistiu do bloco por discordar da demora em divulgar as informações. É verdade também que essas pessoas tinham e têm o direito de fazer essas reivindicações. Mas a terceira verdade é que realmente valeu a pena – todas as penas de todos os pavões.

É possível medir a potência de um bloco pela entrega do povo a ele. Medida em mililitros de tinta azul, em miligramas de acessórios dourados, em metros de panos e turbantes e saiões, o carnaval de Belo Horizonte se entrega, sim, ao Pena de Pavão e à sua proposta de fazer elevar mentes, almas e chacras, em pleno festival da carne.

PPK-2015.49

De abraço em abraço, até quem saiu de casa em sua cor-de-pele natural caminhou azul. Os brilhos dourados se confundiam e misturavam, sem sabermos direito onde começava um corpo para terminar o outro. Vai ser sempre especial olhar nos olhos da vizinhança por onde o Pena passa e ver esse brilho refletido. Como quem enxerga algo mais que real, mais que terreno – e é o que eu acredito que acontece ali.

Não é em qualquer ocasião que a gente topa um “abraço coletivo, todo mundo apertadinho”, depois de ter recebido horas de beijos do Sol na pele; não é sempre que a gente sobe e desce morros sem pensar nos limites do físico; não é sempre que temos um impulso genuíno em abraçar, sentir e trocar com quem compartilha aquele momento com a gente. O Pena faz fechar os olhos em meio à música para sentir aquilo que falta aos cinco sentidos. Para deixar fluir no corpo e no espírito o brilho que não se compra na papelaria, mas que se entranha pela parte de dentro.

Gandhi, Gil, Caetano, Clara Nunes, Ganesha, Iemanjá, Oxum, Krishna, Maria Bethânia, Jorge Ben, Siddhartha Gantama, Iansã, Rita Ribeiro, Maria, Carol, Diego, Roberto, Lara, Mário, João, Letícia, Lucas, eu, você, nós. Foi uma tarde de caminharmos tod@s junt@s – e sermos maiores por isso. Sempre, é claro, à pé, e no ritmo da nossa fé.

PPK-2015.32