O carnaval virou a esquina

Texto: Leandro Lopes, do Coletivo Adiante
Fotos: Rafael Mendonça e Vinicius Rezende

Eu vi o carnaval virar a esquina e percebi que toda quarta-feira de cinzas enterra a felicidade, mas germina o sonho de lembrar.

Eu vi o carnaval virar a esquina e tentei descrever a saudade e descobri que essa é a missão mais próxima da possibilidade do impossível. Vi que a prateleira do meu tempo anda revirada de memórias desorganizadas e sorridentes.

Eu vi o carnaval virar a esquina e entendi que escrever sobre isso é uma forma de me manter por lá. Percebi também que a esquina é nossa caixa colorida por onde uma hora ou outra, alheia às nossas decisões, salta um boneco de um palhaço a zombar da nossa saudade.

Eu vi o carnaval virar a esquina e compreendi que foi mais fácil ir dizendo, dia a dia, o que era o carnaval, do que encontrar agora a capacidade de descrever o que foi.

Eu vi o carnaval virar a esquina e caminhando para casa me apeguei a ideia de saber que o carnaval, daqui a alguns anos será história, mas que antes de ser história, um dia, ele foi real.

Eu vi o carnaval virar a esquina e tento imaginar que todas essas boas lembranças que carrego, andarão comigo para sempre. Eu sei que é uma grande mentira, mas só assim serei capaz, agora, de sobreviver ao ver o carnaval virar a esquina.

IMG_9082