Um único carnaval

por Rafael Mendonça

“Neste Carnaval de 1935, hoje começado, mais do que nunca senti de modo tão vivo a impossibilidade de me fundir na massa, de seguir, como célula passiva, seu movimento de translação, de receber e transmitir essas forças misteriosas que nela atuam,comunicando-se de indivíduo para indivíduo e resultando, afinal, numa força uniforme, esmagadora, de onda ou ciclone”.

Esse sentimento que Belmiro, o herói no histórico livro de Cyro do Anjos, traz em seu peito, não corresponde exatamente ao que promete ocorrer na cidade daqui há breves dias. Um acontecimento que nem os operários, que construíam aqui e ensaiaram um corso em 1897 pelo que era nossa cidade, imaginariam. Que depois de 116 anos, a capital pode receber mais de um milhão de pessoas em suas ruas. Sabe-se lá quantos visitantes chegarão por aqui para dividir esses lugares que tantas histórias já contaram.

Uma longa história, que mais parece as ladeiras daqui, com seus altos e baixos. Momentos de glória se confundem com anos em que nem as tradicionais escolas de samba desfilaram. Santa Teresa, Lagoinha, Prado, Santo Antônio, Serra, Cachoeirinha e todos os outros bairros tradicionais que devem ter histórias para contar. Descobrir e contar estas histórias e as que serão escritas durante estes dias é o que espero.

Um renascimento que veio vindo devagarinho, crescendo, diversificando. E hoje da para dizer, pela quantidade de blocos que desfilarão neste último fim de semana antes da festança, e com a quantidade de locais da cidade que estão devidamente representados por eles, que algo forte está acontecendo.

Bom carnaval!