Entre o primeiro som e o último, o Chama o Síndico é um fogo louco!

por Coletivo Adiante
Texto: Leandro Lopes
Fotos: Vinicius Rezende

Rua Salinas: dezenove horas, blusa preta, short azul. Dois corações do Bloco do Amor na bochecha já denunciavam seu destino: Praça da Liberdade, Chama o Síndico. “Estou achando que esse ano não vai ser legal porque vai estar muito cheio”, disse ela, ainda desconfiada com a minha tentativa de fazer amigos.

Ônibus 9103: dezenove horas e trinta minutos, máscara de bailes, fantasias de pijamas, apetrechos indecifráveis, batons de seis reais e noventa centavos a pintar o mundo. “Se tiver muito cheio a gente não vai ouvir o som”, disse alguém atrás de mim. Gostei da proposta de não me virar e criei um rosto para meu segundo entrevistado anônimo.

Praça da Liberdade: dezenove horas e cinquenta minutos, fantasias tímidas a colorir as ruas, sorrisos fartos, barulhos de vozes felizes, som ainda não ativado. Lugar cheio. 1.471 curtidas, 517 comentários, 379 compartilhamentos para um post que anunciava o desfile. Só podia lotar.

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Entre o primeiro som, aquele que levou todos a gritarem em êxtase, aquele fio sonoro de ar que, como ondas, vai contaminando a todos, um a um, vai disparando tilintares e assobios (Jacarezinho! Avião!). Entre esse primeiro som e o último, já na esquina da Afonso Pena com a Espírito Santo, foi possível colecionar boas sensações. A ver: abraços, beijos, calafrios, alegrias, saltos, gozos, aplausos.

Entre o primeiro som e o último, foi possível, mais de uma vez, querer ser músico, foi possível ter vontade de apertar com gratidão cada uma daquelas pessoas que fizeram aquilo acontecer. Que distribuíram amor, construíram a possibilidade de afetos. Pessoas que fazem isso por razões que são difíceis de explicar quando não se tem dinheiro na mesa, quando não parecem existir interesses financeiros. Tem um texto do Eduardo Galeano que conta que a vida humana é um mar de foguinhos. Existe, nesse oceano, fogos grandes, fogos pequenos e de todas as cores. Existe, nesse mar, gente de fogo sereno e gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas. Os fogos loucos são aqueles que ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar, e quem se aproxima, se incendeia. O Chama o Síndico é um fogo louco!

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Afonso Pena: duas horas e seis minutos. Avenida vazia, muitos policiais, Kombi a ser empurrada. Fim de festa. Estava cheio. Não seria isso um mar de foguinhos? E, sendo um mar de foguinhos, quanto mais fogos melhor? Procura-se a opinião da minha entrevistada anônima, blusa preta, short azul. Dois corações do Bloco do Amor na bochecha.