Toda felicidade é legítima

por Coletivo Adiante
Texto: Leandro Lopes
Fotos: Sarah Dutra |

Ninguém sabe dizer, explicar, escrever, desenhar, pintar, colorir… ninguém sabe descrever o que é a felicidade. Mas todos conseguem saborear por alguns instantes os seus efeitos. Ontem, enfim, deu pra sentir que ela fazia parte do ar como substância a se espalhar pelo oxigênio. Sensações de feliz saciedade. Foi isso que vi durante o percurso do Bloco Ordináááários que ocupou a Avenida Brasil.

Mas ainda que a gente não consiga entendê-la, faz parte da gente querer julgá-la. A felicidade é um réu, às vezes cabisbaixo, às vezes confiante. E a gente tende a querer decifrá-la a partir das nossas escolhas. Muitos foram aqueles que ainda que felizes, olharam ontem, na mesma Avenida Brasil, naquele mesmo lugar, com olhos de desdém, a felicidade alheia. Chamaram aquilo, pejorativamente, de micareta.

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Micareta é um termo (invenção baiana talvez) que define festas carnavalescas fora de época. Aprende-se, sem muita demora, que trata-se de um evento para multidões, pegações, futilidades, chatices e amores frívolos. Aprende-se rápido que é uma festa pela qual nem todo mundo se orgulha de participar.

O Bloco Ordináááários foi, para muitos, uma grande micareta! Para mim, a questão é: e se for tudo isso mesmo? E se for multidão, pegação, futilidade, chatices, amores frívolos? Lembrem-se: ninguém é capaz de descrever a felicidade. Talvez seja precisamente essa forma de ausência de descrição que possibilite a graça de ser feliz, onde cada um, a partir da sua própria invenção, seja capaz de achar seu modelo. A felicidade talvez não precise do homem para nada, a não ser para ser ela mesma. E, enfim, todas as suas formas são ou deveriam ser legítimas.

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