Das dez coisas que carrego comigo sobre o Baianas Ozadas

por Coletivo Adiante
Texto: Leandro Lopes
Fotos: Sarah Dutra

Das dez coisas que carrego comigo sobre ontem, 16 de fevereiro de 2015, no desfile do bloco Baianas Ozadas, uma delas é a sensação da camisa ensopada. Talvez seja isso a liberdade: ter coragem de encarar um temporal. Ser Gene Kelly na rua da Bahia e rodopiar nos postes ao som da baianidade nagô.

Carrego também a incansável resistência de alguns batuqueiros que já na Praça da Estação, duas horas depois da última música do desfile, estavam ali mantendo a alegria de todos, não permitindo a chegada do frio, sendo heróis de um carnaval que, de fato, não deveria ter final.

Das dez coisas que carrego comigo sobre ontem, uma delas é a certeza de que o Baianas Ozadas é aquele bloco que chega mais perto do sonho de popularizar, democratizar e pluralizar o carnaval. Ainda estamos longe e podemos tomar o caminho perigoso dos isolamentos financeiros. É uma questão de escolha.

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Vem comigo também um orgulho de ver alguém tão querido, como Geo Cardoso, a colaborar na condução e invenção de tudo isso.

Das dez coisas que carrego comigo sobre ontem, uma delas é a confirmação de que temos muito que aprender sobre festas de multidões. É preciso se criar logística de trânsito que permita que o carro de som transite sem representar riscos. É preciso que as avenidas sejam fechadas para a alegria passar. É preciso que as pessoas saibam que essas responsabilidades não são dos blocos e sim do poder público.

Carrego comigo o medo da necessidade de colocar trios elétricos pelas ruas. A equação que precisa ser respondida é: como proporcionar um bom som a todos, quando esse todos são 60, 70, 80 mil pessoas?

Vem comigo o questionamento sobre a necessidade de se criar um grito que repulsa outros eventos de outros cantos do país. Era comum que as pessoas gritassem “Chupa Salvador! Aqui é BH!” Não é um problema querer ser melhor, querer ser mais, mas são em ações brincantes assim que se tenciona o desrespeito.

Das dez coisas que carrego comigo sobre ontem, vou me lembrar sempre daquele tapete branco de baianas que me faz lembrar a coisa mais linda do mundo de todos os mundos carnavalescos: os Filhos de Gandhy, em Salvador.

Carrego o desejo de perceber o Baianas Ozadas, sendo o maior bloco de rua de Belo Horizonte hoje, sentindo-se responsável também por essa festa, podendo ser mais uma voz nos embates entre desejos públicos e interesses políticos.

Das dez coisas que vem comigo, desde o final do desfile de ontem, uma vontade transbordante de desejar que o Baianas Ozadas cante em outros cantos, sinta-se forte, seja ainda maior e melhor. Que o mundo seja pequeno para tanta alegria!

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